29 setembro 2006

Mar negro de mim

Minha complexidade me excede... Meus sentimentos me ofuscam a razão... Meu corpo não me comporta mais... E a mente, em outro corpo... Meus olhos estão cegos, Ofuscados pela luz negra de outrora. Intermitente, insuficiente, Fustiga-me pela ausência da aurora. Ainda que a fundo eu respire, Dilacera-me torturante a alma A cada brisa, a cada toque... Eu me afogo num mar de mim, Sozinho por assim estar, Diante do medo de fechar os olhos...

28 setembro 2006

Cerrado no escuro...

Eu não mais me reconheço. Esqueci-me do que sou, Do que sei, Do que faço. Abdiquei-me de mim mesmo No momento em que cerrei meus olhos. Minha essência esvaiu-se, Minha mente se esgotou. Volto-me à face do lirismo sem causa, Enclausurado naquilo que eu conheço de melhor: O escuro... E ainda que me batam novamente à porta, Mantê-la-ei cerrada, selada, Até que a nuvem obscura se disperse...

27 setembro 2006

Sublimação

E do mais profundo eu amor te dou Por plena incapacidade de contê-lo E por mais que não seja válida a inocência de dividí-lo Eu sempre o farei, por simples alegria... Mesmo que somente o alento me acene de volta, Num resquício qualquer de reciprocidade, Viverei intensamente o que vivo, Num estado constante de sublimação... Que se queime toda a minha essência No último sopro de vida Que ainda me faz sentido Que se eleve de todo a candura Levando consigo minh'alma E o que ainda resta de mim...

Amor Intenso

Amor como esse existe de verdade? É o que eu sempre escuto... E ainda que exista, o quanto nós nos permitimos viver toda esta intensidade? Desprender-se de todo o bom senso, das defesas e correntes, para se entregar de todo a um sentimento inquietante como este, é realmente o melhor caminho??? Eu tenho medo de sofrer... Sofrer pelo que não vale a pena. E ainda assim eu sofreria, por medo de renegar à felicidade, quando ela vier a bater em minha porta...

18 setembro 2006

Amigos Virtuais

Com a febre das comunidades virtuais espalhadas pela internet (e em especial o tão aclamado Orkut), pessoas se relacionam com um grau de intimidade cada vez maior. Escondidas sob perfis falsos (os fake profiles) essas mesmas pessoas se libertam do grande peso que é falar abertamente sobre coisas um tanto vexatórias ou mal vistas pela sociedade, como homossexualismo, ou ainda sobre coisas extremamente pessoais, como decepções amorosas e crises existenciais. A pergunta que fica é: existe uma amizade real nesse meio um tanto hostil? Não há contato físico entre as partes. Não há qualquer espécie de confirmação a respeito dos dados pessoais que tais pessoas divulgam em seus perfis, quando tais informações são divulgadas. As fotos podem não ser verdadeiramente de quem dizem ser. Os textos escritos durante as conversas em tempo real podem ser sinceras, como realmente parecem ser, mas também podem simular uma personalidade qualquer. Eles podem exprimir sentimentos comuns aos leitores, para que estes se identifiquem com quem os escreve, transmitindo a este um grau maior de confiança. Pior ainda quando mulheres se passam por homens e vice versa, como uma espécie de experimentos acerca do sexo oposto. Mas até onde se deixar levar neste tipo de envolvimento, já que tantos contras aqui foram expostos? De certo, a única certeza que se tem é acerca do que nós próprios falamos. Às vezes, nem isso. Mas o quanto a certeza a respeito do próximo é necessária? Existem sim pessoas inescrupulosas, que se aproveitam de uma possível fraqueza (momentânea ou não) do emocional ou da própria inoscência e boa vontade das suas vítimas para aplicar-lhes golpes diversos (a dita engenharia social). Mas visto que informações de cunho financeiro e dados pessoais tais como endereço não devem ser divulgados a qualquer preço, isso aqui não é o importante. Se passamos por momentos difíceis em nossas vidas, é extremamente comum procurar alento naqueles que estão dispostos a nos ouvir, a nos dar uma palavra de incentivo, mesmo que por detrás de uma tela de computador. Se as máscaras que vestimos ao efetuar um login vão além da manutenção da privacidade, a ilusão de conforto durante um diálogo qualquer é meramente passageira. Assim que a página expira, ou que o logoff é feito, a mesma sensação de vazio nos acomete, e o ciclo vicioso continua. Mas se há sinceridade em nossas intenções, as emoções transpassam os bytes das mensagens e o aspecto frio e inerte da tela de um computador, e amizades são realmente estabelecidas. Amizades duradouras, por sinal. Confidências são feitas, conselhos são trocados, sentimentos se constróem e as relações se enraizam, mesmo na ausência de contato físico. Cabe a nós determinar o grau de envolvimento dedicado a esse tipo de relação, pois como em todas as outras, pessoas se machucam. Saber reconhecer as verdadeiras intenções das pessoas é fundamental, tanto nas relações reais quanto nas digitais. E após constatadas todas as veracidades e bondades possíveis, aproveitar ao máximo tudo o que essa nova forma de iteração nos proporciona é o que se deve fazer. "Que seja eterno enquanto" a conexão discada não caia, o link da banda larga não fique ruim, o computador não trave...

16 setembro 2006

Que se dane...

Que seja. Não me importa mais o que penso de mim mesmo. Não me importa mais o que eu sinto por mim mesmo. Nem o que quero de mim e dos outros. Que se dane... Não quero mais ser apenas um amigo. Muito menos um estranho, um nulo.... Eu quero ser amado, e que seja intenso... Não é pedir demais um pouco de carinho, Um olhar sincero ou um toque doce, Um abraço ou um beijo de boa noite, Mesmo que por pura obrigação. Viver isolado de todos e de mim mesmo sim o é, Dormir sem sonhar, e acordar sem sorrir, Num corpo seco de sentimentos...

15 setembro 2006

Em que mundo me encontro?

Eu sinto um misto de mim mesmo Que nem mesmo eu consigo compreender. Um pedaço de carne enchertado com sentimentos Não retribuidos ou simplesmente ignorados, À mercê do que chamam de destino...
Lágrimas escorrem pela face, Sem motivo e sem destino, Levando consigo o pouco de certeza Que havia acerca do que não sou...
Eu sou um misto ambulante de solidão e amor, Um amor simplesmente por amar, Que se entrega sem medir consequências, Que se doa, mesmo que por egoismo, Esperando somente um pouco de carinho...
Carinho esse, mesmo que por esmola. Carinho esse, mesmo que por pena. Que seja, ao menos, sincero, Que me disperse o pensamento Mesmo que apenas por um instante...
Em que mundo eu me encontro, Se não sei nem quem sou, Se não sei mesmo o que eu sou, Ou mesmo o que sinto...?
E se nem mesmo eu sei quem sou Quem poderia me dizer, Se me escondo inconscientemente De mim mesmo e do resto do mundo?

13 setembro 2006

Polvo gigante feito de açúcar

Do Orkut, em alguma comunidade e tópico cujo nome agora eu não me lembro, achei a frase: "carência e depressão são o mal do século". Reconheço em mim muito de carência, mas não vejo depressão. Vejo sim, uma crise intermitente de baixa auto-estima. Não é fácil ficar quase 3 anos sem um caso mais sério, principalmente para um romântico assumido. Tem gente que diz que eu exagero... Reconheço que às vezes eu pego um pouco pesado. Na minha ânsia de atenção e carinho eu pareço cobrar demais, de mim mesmo e das pessoas que se envolvem. Sei que isso é prejudicial, visto que faz minhas expectativas irem além do bom senso. E isso não acontece somente no campo sentimental, tenho problemas parecidos no que se refere ao pessoal e ao profissional. Sou um tanto perfeccionista (bem, na verdade muito perfectionista), e há horas em que isso deixa de ser uma qualidade para virar um defeito. Sou carente sim, não nego. Sou carinhoso sim, não nego. E quando a carência ultrapassa os limites, me vejo feito um pote de açúcar numa casa cheia de diabéticos. Ou quem sabe um polvo gigante untado de óleo em meio ao universo feminino (nada me escapa, porém nada fica um segundo seguro em minhas mãos). Mais pareco um polvo gigante feito de açúcar... É difícil olhar para casais amigos meus se beijando inoscentemente, com carinho, com romance, e me sentir incomodado com eles. É difícil se ver desejando mulheres comprometidas, ou aquelas que homens normalmente só desejariam em estado alterado de consciência... Muita gente diz que eu tenho que mudar, mas ninguém percebe que mudanças, por menores que sejam, requerem tempo. Não é fácil mudar de personalidade, ou o jeito de se ver as coisas, de uma hora para outra... Fui muito pior do que sou hoje. Completamente isolado, indo de encontro a tudo o que as pessoas consideravam normal quando adolescente, desde andar com roupas rasgadas e transparentes de tão velhas a gostar de ver fotos de cadáveres. Nunca fumei, nem cigarro, nem nada mais pesado. Nunca fiz tatuagens, nem tenho piercings espalhados pelo corpo. Apenas pensava diferente da maioria das pessoas. Ainda sou assim, mas essa história é longa demais... O fao é que melhorei muito desde então, mas precisei de sete anos para isso. Vêem agora do que falo? Mudanças são um processo contínuo, não ocorrem de uma hora para outra... Uma amiga minha diz que eu tenho "o peso do mundo inteiro nas costas". Acho que ela tem razão... Hoje, eu acho que tenho metade do peso do mundo nas costas. Mas quem tiraria esse peso enorme de mim? Nada se cria, nada se destrói. Tudo se transforma... Eu queria ser o que todos querem de mim, e ser o que eu quero de mim mesmo, mas acho que tudo isso é incompatível demais...

Timidez

Certamente, não é fácil conviver com esse tipo de coisa. Timidez não é uma doença, mas também não é algo necessariamente agradável. Tem pessoas que conseguem conviver bem com isso, visto que timidez possui certos graus de, digamos, gravidade. Há aqueles tímidos somente para falar em público, mas que são normalmente extrovertidos com os amigos, em festas e com a mulherada. Há outros que são mais retraídos, e nem em festas se sentem bem a vontade...
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Anteontem, após uma conversa com uma amiga de faculdade, descubro que ter ficado com apenas 5 garotas durante o período entre 14 e 19 anos não é normal. Fiquei extremamente chateado com isso (normalmente quando eu estou chateado fico muito mais quieto que o normal). No dia seguinte (ontem), a mesma amiga tentou uma terapia de choque, soltando um "você é um medroso, e exigente demais consigo mesmo e com os outros". Isso pra mim soou quase como um "fraco, incapaz"... Saí correndo do estágio para um shopping center próximo (salve Iguatemi), parei numa loja de perfumes (Empório Bijou, acho), quando me deparei com uma morena linda, de olhos castanhos. Ela borrifava alguns perfumes naquelas tiras de papel. Olhei a vitrine, vi algumas coisas interessantes e resolvi entrar pra comprar um perfume. Ela era simpática, como toda vendedora, escolhi três deles, dos quais dois ela borrifou na minha pele. Estava indeciso, chateado, quieto, muito mais que o normal. Ela insistiu, tomou o meu pulso e snetiu o aroma do perfume que ela havia borrifado, misturado como cheiro do meu próprio corpo. Disse que havia gostado, e me convenceu a levar os três perfumes. Ao pagar todos (no cartão, é claro, quem anda com R$83,00 livres na carteira nos dias de hoje?), ela me olha nos olhos e pergunta: "Você é tímido, Leandro?". Não tive coragem de abrir a boca, e respondi com a cabeça. "Ah, eu acho bonitinho homens tímidos, eu gosto...". Sorri, despedi-me e saí igual ou pior do que havia entrado.
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Sou tímido, mesmo que meus colegas mais distantes achem o contrário. Costumo brincar pra disfarçar o meu jeito normalmente quieto (uma das muitas mudanças que fiz em mim mesmo em sete anos), falando muito sobre putaria, rindo muito, dançando feito louco nas festas que me predisponho em ir, nos bares onde e quando eu vou com a turma, etc. Não me considero a nata dos homens belos, como elas dizem. Não sou um Zulu, ou qualquer beldade advinda do ébano. Não sei o quê, nem como chegar com 100% de eficácia (ou quase isso - falando em termos estatíticos) nas "presas", como acho que a maioria dos homens ditos "baladeiros" consideram suas paqueras. Já levei foras do tipo "sai, nêgo preto" quando infância, e isso, mesmo reconhecendo ser coisa de criança mesmo, marca. E fundo. Durante muito tempo, tive medo de me aproximar e levar um fora qualquer tanto parecido com isso. Com o passar do tempo, tive medo de levar um fora, qualquer que fosse. Anteontem, durante uma conversa, acabei descobrindo que ficar com 5 garotas apenas entre os 14 e os 19 não é considerado algo normal. Amigos meus falam que eu tenho que mudar, e como eu havia dito antes, aqui mesmo e em muitos outros lugares e ocasiões, mudanças não ocorrem de repente.... Essa timidez me incomoda, e muito. Não é fácil ficar sozinho, por pura timidez. A gente costuma fazer coisas que normalmente não faz. Vejo-me desejando mulheres comprometidas, ou aquelas que homens normalmente só desejariam em estado alterado de consciência. Vejo-me desejando mulheres 20 anos mais velhas, não que eu tenha preconceito quanto a idades, mas isso é coisa que eu normalmente não faço (a menos que essa mulher madura seja esculturalmente linda). Às vezes me bate uma crise de baixa auto estima, que vai e volta, sempre. Justo eu, tão carinhosos, romântico, sensível, compreensivo... Já me disseram que homens assim são difíceis de se encontrar. Mas só ouço isso de amigas. E quando eu me predisponho a ir à luta, por assim dizer, só ouço "amizade" como o máximo que elas podem me ofereçer. Se eu recuso a amizade, sou um idiota. Se eu aceito, sou pasivo demais... Não sei o que querem... Decididamente, não sou o "homem com pegada" que a maioria delas gosta... Não queria ter que ser o que não sou para deixar de ficar sozinho. Quero que as pessoas gostem de mim como eu sou,e não pelo que querem que eu aparente ser. "Sua hora vai chegar", mas eu estou me cansando de esperar... Leia também: O possuidor de mundos

09 setembro 2006

Distância

Sinto-me estranho mais uma vez. E desta vez, nem mesmo os motivos eu conheço... Talvez sejam as mesmas coisas de sempre, apesar de eu sair mais, de ir mais a festas e entrar mais em contato com as pessoas, mas ainda assim eu sinto que falta algo. Falta carinho, e tantas outras coisas que não são fáceis de se encontrar na prateleira do supermercado. Muito menos num desses bazares, ou em sebos de Jorge Amado, Vinicius ou outros grandes poetas. Sinto-me melhor. Ainda estranho, mas melhor. Já consigo me olhar no espelho e ver que não há nada errado, ou ao menos muito errado comigo. Sei que eu sou bonito (aina que isso seja um mantra interiorizado por osmose). Sei que mulheres me olham diferente (ainda que eu não seja capaz de reparar em qualquer uma que assim se porte). Mas ainda falta algo. Queria poder encontrar logo... Fico menos tempo olhando fixamente pro celular, esperando que alguém me ligue. Fico menos na janela da frente da casa, esperando que alguém passe e acene para mim. Fico menos esperando que o ônibus não venha, sem ao menos ver alguém subindo a ladeira... Dizem que a distância é o melhor remédio. Eu acabo confirmando isso, sem querer. Depois de 6 anos amando a minha melhor amiga, e de alguns "não" viementes e arescidos de desculpas esfarrapadas, de tentativas de abrandar o sofrimento de um amor não correspondido, a distância me fez esquecer um pouco o que eu sentia, ainda que eu tivesse que abdicar dos bons momentos que uma amizade tão duradoura quanto me proporcionaram. Depois de embarcar numa relação de alto risco, contra tudo e contra todos, de ouvir comentários sórdidos e sem nenhum escrúpulo de todos os que me rodeiam, a distância me fez esquecer um pouco de toda aquela tensão, ainda que a mesma distância me fizesse esquecer o quão bom é receber um tanto que fosse de carinho, depois de tanto tempo sozinho... Parei os meus projetos textuais, visto que estes me pediam um estado de total excitação. Parei os meus projetos musicais, por eles me remeterem a um estado sensível demais. Deixei de me lamentar por estar há tanto tempo só, para saborear um belo por do sol, uma boa música, o perfume das mulheres (ah, belas mulheres...) dentro dos ônibus, sempre (e ainda bem!) lotados. Só me incomodo um pouco com os casais que se beijam bem à minha frente, por desejar um pouco daquilo para mim. Meu romantismo se esconde, pois a vontade de sorrir é ainda maior. A paixão inflamada por si mesma se retrai, a medida que o tempo passa, e eu continuo aqui, na mesma... Sei que um dia isso passa, mas queria que fosse logo... Sei que deixar de ser quem eu sou não vai mudar o que eu sinto, muito menos a maneira como as mulheres me vêem: um homem jovem, mas sério, fechado, e com o peso no mundo sobre os ombros. Um dia isso passa, e a pessoa certa aparece. eu só preciso procurar, mas como fazer o jovem homem brincalhãr, mas tímido para os assuntos do coração, tomar a iniciativa e procurar um brinco de brilhante numa calçada enlameada pela chuva?