Veneno corrosivo, que faz as coisas perderem o sentido, que faz os momentos felizes de uma existência inteira perderem suas origens, seus motivos... É um medo estranho de que as coisas nunca conheçam um começo realmente feliz, a contento de tudo e de todos, como uma unanimidade subjetiva e exata que nos provê uma completude há muito desejada. Medo do futuro, medo do velho tempo, corcunda e vagaroso, devido ao peso da sabedoria que carrega nas costas.
Veneno algoz, que se intensifica a cada arfada, a cada movimento brusco de peixe em mar de ansiedade... Peixe que agoniza, que se debate, que definha por si só. Peixe que talvez sonhe em ser ave, ou apenas peixe... Peixe que almeja apenas mais uma única gota de vida, suplicando tão somente que a esperança lhe venha como o ar, inundando-lhe o sangue, renovando-lhe o sopro da fé...
De olhos fechados, o silencio de uma vida lhe ensurdece. E lá no fundo de si mesmo existe, ainda que ingênua, a crença num dia qualquer, em que possa finalmente descansar em águas plácidas, de onde nunca mais sairá. Uma crença tão humilde quanto a vontade de viver, que ainda lhe impele a extrair de coisa nenhuma um resquício qualquer de esperança...
por Leandro Soriano e Vanessa Machado