07 novembro 2007

Anxiety

Veneno insípido, incolor, inodoro e letal. Uma urgência inconseqüente de poder amar em paz, um oceano inteiro de afeto e desejo que não cabe em carne, osso e coração. É tanta alma pra doar que a carência de todas as existências se encontram numa ramificação, formando um único caminho... E às vezes dá desespero por não avistar alguém, qualquer um que seja, pra caminhar junto conosco... É um medo que dói, um medo sem razão de ser, medo do que talvez nunca poderíamos ser ou ter... Medo até de pensar....

Veneno corrosivo, que faz as coisas perderem o sentido, que faz os momentos felizes de uma existência inteira perderem suas origens, seus motivos... É um medo estranho de que as coisas nunca conheçam um começo realmente feliz, a contento de tudo e de todos, como uma unanimidade subjetiva e exata que nos provê uma completude há muito desejada. Medo do futuro, medo do velho tempo, corcunda e vagaroso, devido ao peso da sabedoria que carrega nas costas. Veneno algoz, que se intensifica a cada arfada, a cada movimento brusco de peixe em mar de ansiedade... Peixe que agoniza, que se debate, que definha por si só. Peixe que talvez sonhe em ser ave, ou apenas peixe... Peixe que almeja apenas mais uma única gota de vida, suplicando tão somente que a esperança lhe venha como o ar, inundando-lhe o sangue, renovando-lhe o sopro da fé...

De olhos fechados, o silencio de uma vida lhe ensurdece. E lá no fundo de si mesmo existe, ainda que ingênua, a crença num dia qualquer, em que possa finalmente descansar em águas plácidas, de onde nunca mais sairá. Uma crença tão humilde quanto a vontade de viver, que ainda lhe impele a extrair de coisa nenhuma um resquício qualquer de esperança...

por Leandro Soriano e Vanessa Machado

05 novembro 2007

A new passion? Maybe...

Três da tarde. Casa, um banho, e pé na rua novamente. E lá se vão mais 3 horas, rapidamente o sol se põe. Chego no shopping e dou o telefonema. Segundos depois, lá vou eu em direção à loja de roupas, onde ela estava. Passos um tanto apressados, é verdade, mas a vontade imensa de vê-la justifica tamanha ansiedade... Assim que eu ponho os pés dentro da loja, eu vejo de longe dois pseudo-homossexuais gritando histéricamente o meu nome. "Êlas" vêm em minha direção, com um rebolado hiláricamente mágico, elogiando o meu aperto de mão, o meu sorriso e os meus pelos no abdôme; tentavam a todo custo me fazer ficar ainda mais sem graça (coisa impossível pra quem já sobreviveu aos sarros dos cursinhos pré-vestibulares e ao CEFET-BA). E imediatamente após as carícias em meu abdome também pseudo-definido, surge ela, completamente linda e envergonhada... Recebeu-me com um beijo rápido e um abraço mais que reconfortante, abraço pelo qual eu havia passado cinco eternos dias esperando... Aquele sorriso emitia um brilho, uma sensação de paz e conforto que há muito tempo eu não sentia... Lá se vão ela uma amiga (com seios fartos, coxas roliças, bumbum redondinho, cintura fina, cabelo longo, voz fina, tudo que um homem gosta numa mulher nascida mulher). Enquanto iam as duas pro provador feminino, os dois amigos dela, agora se despindo do papel de homossexuais, conversam um tanto comigo. E, por incrível que pareça, conseguiram me deixar mais sem graça quando falavam sério do que quando estavam de brincadeira. O mais baixo, de cabelos negros, pele clara, cujo nome agora eu me esqueço, entre outras boas dicas, dá-me o conselho: "cuide bem da minha amiga, tá ouvindo?" Estava um tanto apressado, precisava ir buscar alguém em algum lugar. Fica o outro, um tanto mais velho, de cabelos longos e louros. E, também, entre as diversas outras coisas que dois homens da área de informática falam (20% de tecnologia, 79.999% de mulher e sexo, mais 0.001% de coisas amenas), solta a pergunta: "há quanto tempo vocês estão juntos?" Corei, e demorei pra responder que estávamos saindo há pouco mais de uma semana. Saímos da loja e fomos todos matar tempo. Entre o encontrar de alguns outros amigos na fila dos ingressos, da ida ao caixa eletrônico para sacar dinheiro e as andanças pelas vitrines em busca de algum brinquedo engraçado, eu me deixava levar... Andávamos de mãos dadas pelo shopping, a despeito de qualquer outro ser, homem ou mulher, ou qualquer mistura dos dois. Ela conseguia me fazer sentir conforto e hospitalidade, como se nós realmente tivéssemos uma relação de meses, ou anos até. E aqueles amigos, que pareciam me conhecer já há algum tempo, talvez de tanto ouvirem falar sobre mim, faziam daquela noite de segunda feira algo que eu iria gostar de guardar na memória... Dentro do cinema, poutronas já escolhidas. Saem a minha princesa de ébano e o louro hilário comprar algum lanche, e ficamos eu e a amiga do gênero feminino. Trocamos algumas poucas palavras, e no resto do tempo, eu ficava a devanear sobre o que levara àquelas pessoas, que eu nunca havia visto, a serem tão cordiais comigo. Talvez um pouco mais, talvez no porque aquela mulher, de gentileza e carisma tão à flor da pele quanto a sua negritude, estava sendo tão carinhosa. Era exatamente tudo o que eu desejava nos últimos seis anos... Luzes apagadas, exceto a da própria tela do cinema. Encosto de braço entre nós dois erguido, e um abraço terno nos era permitido. Era como uma home session, numa poutrona de couro macia e aconchegante, mesinha de centro, pipoca, suco de laranga, um home theater e um televisor de plasma de 72''. Trocávamos beijos ora ternos, ora provocantes, enquanto alguns tiros eram trocados nas vielas do filme. Era um abraço tão quente que eu não sentia vontade de respirar (o que a levou a parar, virar-se, e tocar uma das mãos em meu peito - taquicardia)... Era como se apenas quatro poltronas estivessem ocupadas na sala inteira, e em duas delas, um outro filme estivesse sendo encenado.
...
Uma hora e meia depois de me despedir dela, no ponto de ônibus, eu estava em minha cama. Desejando insistentemente que a noite demorasse a passar, para que eu tivesse tempo de rever algumas vezes aquele fim de noite. Ou ainda, para que eu tivesse tempo suficiente para desejar mais um dejà vú como este...
"Thank you for touching my heart..."