A princesa dorme, bem ali, protegida pela suavidade dos lençóis, pela maciês do colchão, pela vigilância dos meus olhos. É terno o jeito como abraça o travesseiro, e encantador o sorriso que deixa escapar de dentro dos seus sonhos. E enquanto ela dorme, invariavelmente eu me pergunto: desde quando?
Até onde eu me lembro, eu estava só, atolado em trabalho, focado em reaprender a andar, um passo depois do outro. Não me lembro sequer de ter olhado para os lados, nem da primeira vez em que pude ouvir o som da sua voz. Não me lembro da primeira vez em que seu olhar alfinetou a primeira pitada de interesse naquilo que eu era, até aquele momento. E por mais que eu tente, que eu me esforce, eu realmente não consigo me lembrar...
Não, eu também não me lembro da primeira vez em que lhe disse "
eu te amo". Apenas me lembro que demorei a lhe dizer. Talvez por não querer banalizar algo já tão banalizado... Lembro-me de viver um dia depois do outro, tentando retomar a vontade de ser tão intenso quanto antes. E tal como um filhote de pássaro à beira do ninho, ensinou-me que é preciso bater as asas para se alçar voo. É por sua causa, princesa, que além de reaprender a voar, reaprendi a planar.
Com o que será que sonhas, princesa? Será que faz planos e planos? Queria ser capaz de realizar a todos eles, um a um, sem exceção. Afinal, que príncipe não deseja tornar real o conto de fadas da sua princesa? Que príncipe não deseja fazer da sua dama a mais feliz das rainhas?
Acima da copa das árvores, dos castelos e montanhas, levo a ti de bom grado, desbravando os horizontes que até então, separados, não éramos capazes de alcançar. Saberás, no fundo do teu ser, que hei de me entregar a ti de corpo e alma, mente e coração, exatamente da mesma forma que eu soube que te amava.