29 outubro 2008

Resignação?

A frustração inerente ao homem puro esvai-se a cada gole. A força de vontade que ainda resta no homem que tornou-se impuro tenta transformar a fossa em glória. E eis que num segundo o tempo pára, e a candura nos olhos da menina dá lugar ao medo, à decepção, e à lágrima que agora escorre pelo rosto do homem fraco. "Levanta-te, pobre homem", diz a menina, no mesmo choro copioso ao qual o homem fraco está agora fadado, enquanto o torpor ainda lhe faz efeito.

E a cada dia, a cada manhã, lá está o homem impuro e fraco, deitado sob a marquise do prédio velho, com seu falso amigo debaixo do braço. E a cada dia, a cada manhã, lá está a mesma menina, com aqueles mesmos olhos, com aquela mesma voz, fazendo-lhe aquele mesmo pedido. Lembrança de um tempo onde o homem fraco ainda era forte...

Até que numa manhã qualquer, aquele homem ainda fraco esfrega insistentemente os olhos ofuscados pela luz tênue da manhã. "Levanta-te, pobre homem", ele insiste em ouvir. Olha para um lado, olha para o outro, e segurando o seu velho amigo pelo pescoço, percebe que ele está vazio, não há mais nenhum outro gole. Estava sóbreo, e aquela voz não lhe parecia mais uma lembrança. Não sabia ele se o gosto estranho na boca era o gosto de sangue, ou a ausência do seu néctar matinal, até agora encarado como fonte de alívio. Quem lhe tiraria a dúvida, afinal?
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