02 janeiro 2007

Após a "morte", saindo do túnel...

Não estou mais no meu "caixão". Tudo o que eu lembro, é que eu pedi pra que fosse enterrado num belo jardim, numa manhã de sol de sábado. Dava pra ouvir cachoeiras ao fundo, o canto dos pássaros, e depois, silêncio. Escuridão total. Havia uma luz, bastante tênue ao fundo do que eu podia chamar de horizonte, e como era a única coisa visível que eu pudia encontrar, fui em sua direção.

Deparei-me diante do mar, numa noite de segunda feira. O sol já havia se posto... Havia núvens negras e expessas no céu, um azul quase negro, torpe, intimidador. As ondas batiam furiosamente na areia da praia, e eu ali, há 20 metros de onde elas se arrebentavam. Sentia-me como num banco de areia, no meio do oceano pacífico, e continuaria assim, se não percebesse as luzes que emanavam atrás de mim, daquele shopping pelo qual eu havia saido. Apesar de furioso, o mar me chamava. Ele queria falar comigo...

Caminhei vagarosamente ao seu encontro, como criança que teme uma represália dos pais. Parei diante dele, bem perto de onde as ondas quebravam, de pés descalsos, já molhados. Olhei fundo para aquilo que parecia ser uma cara zangada, um coração sombrio... Olhei fundo nos olhos daquele monstro furioso. A única coisa que eu pude fazer foi rezar. Rezei por minha melhor amiga, aquela a quem eu não tive condições de pedir perdão antes de morrer. Rezei por pessoas que eu não conheço, mas que são importantes pra mim, rezei pela minha família, e quase esquecia de rezar por mim mesmo... Senti falta da minha amiga... Morto, onde eu estava, não mais a veria. Não mais discutiria bravamente com ela, nem daria risos descontrolados sobre coisa alguma... Não mais a olharia nos olhos, tentando entender o que se passa naquela cabecinha...

Não faria mais sentido pedir-lhe um abraço, o mesmo que eu só havia recebido apenas uma vez: "O abraço que me faltava"... Não mais me sentiria inútil ao não poder proteger-lhe, seja por incapacidade, seja por proibição. Não mais me sentiria um inútil, por ser repreendido por atos... Enfim, uma paz gélida, inerte, sem sentido... Nada mais além de areia, água fria, e um céu cheio de nuvens negras, tão negras quanto o próprio céu, quanto a própria água. Senti algo familiar naquele lugar... Algumas almas corriam de short, blusa e tênis, atrás de onde eu estava. Outras, apenas caminhavam. Algumas, bem poucas, olhavam para aquele monstro enfurecido, assim como eu. Fechei os olhos, e deixei-me levar pelo que eu sentia, ali, naquele instante...
Comentários
0 Comentários

0 comments:

Postar um comentário

Regras são chatas, mas...

- Seu comentário precisa ter relação com o assunto do post;
- Em hipótese alguma faça propaganda de outros blogs ou sites;
- Não inclua links desnecessários no conteúdo do seu comentário;
- Se quiser deixar sua URL, comente usando a opção OpenID;
- CAIXA ALTA, miguxês ou erros de ortografia não serão tolerados;
- Ofensas pessoais, ameaças e xingamentos não são permitidos;