Um começo de tarde qualquer, e um menino, meio indeciso sobre suas próprias atitudes, se vê no meio de um calçadão. À sua frente, mar. Às suas costas, asfalto. À sua direita, um caminho que logo acabaria num porto. À sua esquerda, calçada, calçada, e mais calçada. Sentou-se um pouco à beira de uma mureta, e ficou ali, respirando a brisa salgada do mar, ouvindo as ondas batendo nas pedras, e pensando sobre como a cidade pulsava, ignorante aos pesadelos alheios.
E o menino então seguiu andando à esquerda daquele ponto, tentando não pensar em nada. Parecia amargurado com a inércia da sua vida, com o quão difícil as coisas tinham sido para ele até então. Pensava sobre como ele era sempre o último a conseguir as coisas que desejava, sobre como e porque as coisas eram tão mais fáceis para algumas outras pessoas, seja pela aparência, seja pela condição social, ou por uma série de questões que, para ele, não faziam o menor sentido.
Passava pelos pontos de ônibus, e via pessoas sem perspectiva alguma, encerradas numa rotina que, para elas, era o suficiente. Passava pelas praias, e via pessoas entretidas num lazer momentâneo, que aquele mesmo menino não teve tanto tempo de desfrutar. Enquanto andava, o menino se perguntava o porquê de algumas escolhas erradas, o porquê de tanta auto-penitência, lamentação, angústia e ansiedade. Foi ali, talvez, então, que o menino decidiu simplesmente continuar andando.
Engraçado... Parece que mesmo agora, depois de ter gasto alguns pares de sapato, ainda há tanto pra se andar... Ao menos, aprendeu que, às vezes, se deve aceitar as coisas simplesmente como elas são. Aprendeu que, às vezes, também é necessário esperar, se não quiser ser atropelado pela vida, que sempre segue em frente. Aprendeu que lágrimas sempre hão de existir, mas que sejam derramadas do melhor jeito possível.