05 novembro 2006

Chorando com os pés

Fazia tempo que eu não precisava disso... E graças a Deus eu ainda não preciso (por quanto tempo?). Mas é engraçado o quão aliviados nos sentimos depois de algumas horas de "choro". Colocamos quase tudo pra fora, é como se fosse um paleativo, que dura por um bom tempo... Mas por que chorar com os pés? Bem, pés não tem olhos, logo, eles não choram, certo? Vocês viriam com uma historinha boba qualquer, dizendo que pés choram sim, basta eu tomar um belo pisão, ou uma topada maravilhosa... Lágrimas a perder de vista, estrelas e tudo mais. Não, não estou falando disso. Nem daqueles calos bem criados, com TV, serviço de quarto, colchão d'água e tudo mais. Nem frieiras, as mais assustadoras possíveis... Eu falo de caminhar. Caminhar muito, numa praça bem arborizada, ou na costa marítima... O barulho da brisa tocando as folhas, ou do mar tocando a areia... O toque dessa mesma brisa em nós... Parece que leva tudo o que nos aflige pra bem longe... Os pensamentos se dissipam... Os medos vão embora (ao menos por um bom tempo). Vemos o por do sol ao longe, as nuvens alaranjadas, a brisa ficando cada vez mais fria... As pessoas felizes andando pelas ruas, as estrelas despontando no céu... Caminhando cabisbaixos, vemos que as calçadas são muito mais longas do que antes. E ainda assim continuamos andando, desfrutando de tudo o que nos envolve. Tudo isso nos passa uma energia boa, que nos revigora a cada minuto... Cansamos de tanto andar, e nos sentamos num banco de praça. Pra variar, ele nos oferece uma vista maravilhosa do que quer que seja: parquinho cheio de crianças, das árvores que nos cercam, do mar... Ali sentados continuamos a pensar em tudo o que nos faz sentir bem, ou em absolutamente nada. Podemos estar a sós, ou acompanhados, compartilhando do mais absoluto silêncio. Casais felizes, amigas barulhentas e artistas de rua ainda passam por nós, e, como sempre, nos enchem de um bem estar surpreendente. Incrível como nos tornamos mais detalhistas quando resolvemos observar o que nos cerca, numa dessas paradas. O canto dos pássaros nunca foi tão audível, o mais sutil dos aromas nunca foi tão intenso... E ainda assim nos pegamos distraídos. Não percebemos o quão rápido as horas passam, nem das pessoas que nos esperam, em algum lugar... Ainda assim, continuamos distraídos e atentos, curtindo o transe benéfico que algumas horas de nós mesmos nos proporcionam. Mas a vida continua, e então, nos levantamos, tentando carregar aos trancos e barrancos tudo de bom que esses momentos nos trazem, e vamos pra casa com um sorriso débil nos lábios. Engraçado como a felicidade vaza pelos nossos braços... Rimos à toa no banco do carro, ou com a cabeça recostada no vidro do ônibus, ainda encantados com aquele bebê que sempre caía tentanto correr atrás da bola... Chegamos em casa, tomamos um banho, com cuidado pra não lavar o bom humor e o bem estar, vestimos uma roupa macia, depois um leite quente... E enfim, nossa cama, tão macia e aconchegante quanto um bom abraço...
Comentários
0 Comentários

0 comments:

Postar um comentário

Regras são chatas, mas...

- Seu comentário precisa ter relação com o assunto do post;
- Em hipótese alguma faça propaganda de outros blogs ou sites;
- Não inclua links desnecessários no conteúdo do seu comentário;
- Se quiser deixar sua URL, comente usando a opção OpenID;
- CAIXA ALTA, miguxês ou erros de ortografia não serão tolerados;
- Ofensas pessoais, ameaças e xingamentos não são permitidos;