03 novembro 2006

Ignorando o desespero...

Esses últimos dias foram um pouco barra pesada. Eu tinha dito que iria dar um gelo na tal Cicraninha, e eu acho que fiz isso do pior jeito. Foi duro, e foram os 4 dias mais difíceis da minha vida... É difícil negar ajuda a quem me pede, ainda mais quando eu sinto apreço... A tal Cicraninha tem piorado esses dias. Nenhum dos psicólogos que procura entende, já ouviu falar ou sequer desconfia do que seja TDAH (Transtorno do Défcit de Atenção com Hiperatividade). Tentou se organizar da melhor maneira que pode, criando listas de tarefas, calendários, lembretes virtuais, isonando-se pra concentração absoluta (é piada?), mas nada disso adiantou de muita coisa. Nós, amigos e parentes tentamos ajudar, cada qual do jeito que melhor sabia, mas também não adiantou de muita coisa. Nesse interím, eu percebi que a autoconfianca, auto estima, otimismo e tantas outras boas qualidades dela estavam se apagando, ou ao menos se escondendo. Tive e ainda tenho medo de que ela entre numa depressão sem volta. Quarta-feira, 1 de outubro de 2006. Eu, aqui neste mesmo laboratório da faculdade, vejo uma aba a mais no Gaim (outro mensageiro instantâneo, afinal, a Microsoft nao reina sozinha). A tal aba tinha letras garrafais no título, em vermelho. Sabia que era ela, afinal, aquele nickname era particularmente único. Resolvi dar só uma olhadinha. "Socorro, socorro, socorro", trocentas vezes seguidas. Sabia que era para me chamar a atenção, e por isso, mudei novamente de aba, continuando a conversa com a pessoa "interessante" que me falava desde outrora. Mais uma olhadinha, e o flood de "socorro" tinha parado. Um Control + L e a aba estava limpa de novo. E lá vamos nós de novo para a outra aba... Novamente, aquela aba estava com o título em vermelho. Mais uma olhadinha, e ao invés daquela enchurrada de pedidos de socorro, um papo diferente. Como eu estava dando um gelo nela, nem sequer li a primeira linha do que ela estava escrevendo, e dali em diante não daria mais atenção a ela. Talvez esse fosse o maior erro do dia, ou dos últimos 5 meses, mas eu não voltaria atrás. Continuei aquela conversa interessante que tanto me entretinha, e antes de sair do computador, respondi em "off" (ela estava off-line) que, talvez, outra hora a gente conversaria. Dali a duas horas, três mensagens desesperadas no celular. Sabia que a coisa era feia, pois ela não se desespera a toa. Indo pra casa, liguei do celular para a casa dela, e primeiro a mãe me diz que ela havia brigado com o namorado. Assustado, pedi que a chamasse. Assim que chegou, pedi número de celular, telefone e contato de mensageiro eletrônico dele, quase ordenando para que ela me esperasse, que após a meia noite a nós conversaríamos. Acabou pegando no sono, e só nos falaríamos pela manhã... Até lá, mais conversa interessante com as paulistas do Orkut... Dez e meia da manhã de quinta feira. No Rwindows lá de casa, uma notificação especial, com direito a sons e cores diferentes aparece em cima do Rindows Live (quase morrendo) Messenger. Era ela, a Cicraninha. Cumprimentou-me com um "bom dia", um pouco seco demais para ela. Havia acabado de acordar. Disse que não poderíamos conversar naquela hora, pos se ela não podia mudar o que a despedaçava por dentro, tentaria arrumar o que se quebrou por fora. Ainda assustado com a idéia dela ter brigado com o namorado, perguntei se ela iria sair, para vê-lo. Disse que não iria sair, pois teria que terminar um trabalho. Insisti para que conversássemos, e então, a casa começaria a cair... Ela se sentia inútil, dependente demais, atordoada, incapaz de fazer qualquer coisa sozinha, desde salvar um simples arquivo até escrever um relatório extenso. Sua falta de atenção já era notória, prejudicava-a no trabalho e na faculdade. O dever atropelava o lazer, e a falta de lazer atropelava o dever. Coisas da TDAH. Disse-me que realmente precisava de mim quando me chamou, e eu, firme no meu propósito, disse que eu tinha que ignorá-la, para que ela visse o que acontece quando todos perdem a fé naqueles a quem se propõem a ajudar. Ela me pareceu ter entendido. Realmente precisava de carinho, mas carinho de amigo, afeição, pois não era fácil aguentar, frágil como estava, toda a pressão a que era submetida. Entretanto, como eu, carente de toda e qualquer espécie de carinho, desde fraternal ao amoroso, poderia separar as coisas da melhor maneira possível? Ainda tentando criar uma semente de auto estima naquele rosto, fiz quatro perguntas básicas, que aliás, acho que todos nós deveríamos nos perguntar...
  1. O que eu faço pra me ajudar..
  2. O que eu faço pra ajudar as pessoas que desejam me ajudar
  3. O que eu espero das pessoas ao meu redor
  4. O que eu acho que as pessoas ao meu redor esperam de mim
Tive uma surpresa boa quando vi que ela sabia responder a essas perguntas, ou, pelo menos a maioria delas. Mas eu senti que ela se sente um tanto acuada, por achar que eu espero muita coisa dela. "Equilíbrio, disponibilidade e responsabilidade". Senti que nada do que fizéssemos a ajudaria, a não ser perguntá-la a respeito do que precisaria. "Você pergunta, mas não me dá tempo pra responder", disse ela. Eu sei, sou mesmo ansioso. Nem o meu bom humor um tanto escrachado, nem as minhas pirações, nem mesmo as gozações de mim mesmo a fariam sorrir de novo, no estado em que se encontrava. Senti um silencio perturbador do outro lado do PC: ela estava mesmo chorando... Sozinha naquele quarto, mesmo com a mãe e a irmã a alguns metros. A mãe que só brigava com ela, a irmã que a compreendia, mas não sabia (e nem tinha voz ativa) para a ajudar. O namorado carente de atenção, embora compreensivo, companheiro e prestativo, também não a conseguia ajudar (assim eu percebi), pois o problema era ainda mais grave... Estaria ela a caminho de uma depressão? O que eu sei, é que todos nós precisamos observá-la mais, notar seus traquejos diferentes, pois algo está muito errado na minha mais nova irmãzinha. Só espero que eu consiga te ajudar, maninha...
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