15 novembro 2006

Um e apenas um beijo...

Ontem, eu tive uma bela surpresa. Chego eu do estágio, e passo meio que apressado na direção de um caixa eletrônico. Passo pela barraca de salgados, e no banco de praça ao lado eu a vejo. Com aquele mesmo jeitinho tímido, quietinho, doce... Comia um salgado qualquer, entretida com coisa alguma, e quase não me veria. Sorri, surpreso, e contente... Ela havia me visto... Com aquele mesmo sorriso estampado, com aquele mesmo rostinho corado, olhos semicerrados, pele alva e macia... Tenho boas lembranças dela... Ensino médio. Um menino "amarelo", meio CDF, que sentava sozinho num cantinho qualquer da sala. Uma menina, não popular (ainda bem...), meio tímida, uma timidez mais que doce... Alguns a achavam estranha, outros, quieta demais. Eu a achava simplesmente facinante... Principalmente aqueles olhos semicerrados, vivos, expressivos... Perdia-me todo ao olhar aqueles lábios rosados... Aqueles lábios... Aproximando-me aos poucos, faço-me amigo dela. Descubro que ela é bastante meiga... E isso, ao meu ver, a tornava ainda mais facinante... Convido-a para sair qualquer dia desses, e ela concorda. Alguns dias depois, ela me informa a respeito de um show, na extinta Rádio Bazar (puxa vida, ela deve estar lendo e lembrando disso...). Marcamos numa sexta (eu acho), na porta de uma escola vizinha, à tarde. O local do show ficava a alguns quilômetros dali, iriamos andando. Saímos, e fomos descendo ladeiras atrás de ladeiras, até chegar na parte mais baixa da cidade... Depois de alguns minutos (acho que uns vinte), chegamos ao local. Ficamos um pouco do lado de fora, após comprarmos os nossos ingressos. Conhecemos um rapaz, algum tanto mais velho que nós, que nos faz um pouco de companhia. Nos compra uma cerveja, bate um papo conosco por algo mais que meia hora, e depois se vai, em meio àquela multidão. Ficamos ali, mais um tanto... Ora em silêncio, ora admirando o espelho d'água refletindo a luz débil do por do sol... Sol posto, lua se levantando, e entramos. O local já estava repleto de gente. Uma área de esportes radicais, a praça de alimentação, uma exposição de artesanato, e até um show de música espanhola... Mais ao fundo, o palco do show. Um gramado enorme... Ao lado, um parapeito, com um corrimão de ferro, e alguns lugares pra sentarmos. Ali fomos, ali ficamos a espera da música... Era agradabilíssimo estar ao lado dela... Só aqueles olhos e aquele sorriso valeriam a noite inteira... Ela, com os olhos perdidos em meio a tanta gente. Eu, com os olhos perdidos em meio a tanta candura... Às vezes nossos olhares se encontravam, e eu, ainda débil, apenas olhava. Por quantas e quantas vezes aquela boca pediu um beijo? Aqueles olhos diziam algo tácito... Estaria eu imaginando coisas? Preferi não arriscar (é, um débil mesmo)... O show começara, e lá fomos nós. Márcio Mello, um show de rock então... Eu não sabia que ela gostava... Dançamos muito, ela pulava, se divertia como eu nunca a tinha visto antes. Eu, ainda apreensivo, olhava por todos os lados, com medo de algum espertinho levar minha carteira, a bolsa dela, coisas daquele menino "amarelo" de 4 anos atrás. Fui relaxando aos poucos, abracei-a um tanto. Volta e meia, ela virava o rosto em minha direção, com aquele mesmo olhar... Ainda dizendo algo tácito. E o débil aqui, ainda pensando: "Será"? Decidi que da próxima vez não pensaria. as duas latinhas de cerveja faziam efeito, enfim. Só assim eu relaxaria... Mais uma viradinha de rosto e, mais uma vez, aquele olhar. Coração palpitante, e, enfim, borboletinhas no estômago. Não, meus caros, eu não arrotei. Abri os olhos por um instante, e me vi provando do beijo que eu havia cobiçado há meses... Não conseguiria descrever o sabor daquilo, mas com certeza nem a minha mãe, cozinheira de não cheia, conseguiria reproduzir aquilo com quitites quaisquer que fosse... O show do Marcio Mello havia acabado. A banda Pato Fú se preparava pra entrar em cena... Minha boca parecia estar anestesiada... Que beijo foi aquele? Aquela menina existe mesmo, ou estou eu dormindo, e quase acordando, pra variar? Estranho, uma voz doce me chamava, eu sabia que estava sonhando... "Soriano? Tá tarde, vamo embora?" Como assim? Não era a minha mãe me acordando? Ainda não eram 5:15 da manhã? Bem, ela não me chama de "Soriano". Nem o resto do colégio. Mas o fato é que já eram 22h e tantos minutos, e como menores de idade que éramos, deveriamos estar mesmo a caminho de casa. E lá fomos nós, caminhando tarde da noite, em ruas desertas, passando por mendigos e viaturas policiais, carros estacionados e lojas fechadas. E eu não conseguia parar de pensar no beijo... Tentaria, ainda naquela noite, repetir a dose mais algumas vezes, mas seria repelido viementemente. No dia seguinte, ou em alguns dias após, eu ouviria algum burburinho, ela entre as amigas, provavelmente chorando. Teria ela namorado? Ou eu entendi aquela conversa mal ouvida, e aquela noite, de um jeito totalmente equivocado? O que sei é que um gostinho de quero mais ficou guardado, até Deus sabe quando...
...
Eu não a via há alguns meses, e sempre que nos víamos, era um com pressa, outro atarantado com as coisas da faculdade... Estava ainda mais encantadora do que antes... Com a pele ainda mais macia, corada, reluzente... Com o olhar ainda mais doce, cândido... Conversamos, trocamos telefones, e-mail, Orkut... Despedimo-nos com um abraço, e um beijo (só um beijo) no rosto. Lá se foi ela, pra aula. Aqui fiquei eu, na fila do caixa. Ainda com o gostinho daquele beijo na boca...
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