23 janeiro 2010

Internet Bloqueada - Produtividade versus Motivação

Pelo menos 4 empresas que eu conheço aqui em Salvador/BA estão bloqueando o acesso dos seus desenvolvedores à internet. Desconheço se o acesso é bloqueado em sua totalidade (como foi o meu caso), se é liberado no horário de almoço ou se é bloqueado parcialmente (um filtro ainda mais restritivo que aquilo que se considera como "senso comum", como sites de pornografia, jogos, etc). Pelo que se pode ver, parece que esta é uma tendência (certamente equivocada, no meu ponto de vista) dos coordenadores e gerentes de TI visando maior "produtividade".


Entretanto, eu questiono um pouco esse conceito de "produtividade".

A produção é definida como os bens produzidos (quantidade de produtos produzidos). Os factores de produção são definidos como sejam pessoas, máquinas, materiais e outros. Quanto maior for a relação entre a quantidade produzida por factores utilizados maior é a produtividade [Wikipedia, 2009. Produtividade]

Esse conceito, no meu entender, só se aplica às tarefas ditas manuais, como as linhas de montagem. Em se tratando de produção de software (algo totalmente subjetivo, como todos nós da área de TI somos capazes de entender), dá-se a entender trabalho que faz uso das faculdades intelectuais do indivíduo, e este, por conseguinte, necessita estar totalmente motivado e disposto a tal. Por motivação, eu entendo condições favoráveis ao bem estar do indivíduo, tais como reconhecimento, confiança, e (naturalmente) algumas concessões, ao invés de pressão, repressão, confinamento e afins.

Em algumas empresas, há a política de se oferecer algumas poucas concessões aos seus funcionários, como por exemplo, ginástica laboral (muitas vezes encarada como recreação), plano de carreira (perspectiva de crescimento), financiamento de cursos (educação), bonificações ao se alcançar determinadas metas de produção e qualidade (pseudo-reconhecimento), como idas à pizzaria, churrascaria e afins, por conta da empresa. Tais concessões, em tese, demonstram o interesse das empresas em investir na qualificação e bem estar dos seus funcionários, ainda que seja para interesse próprio. Tudo isso recai nas categoria das necessidades humanas que Manfred Max-Neef chamou de understanding (aprendizado) e recreation (recreação), o que, por um lado, traz motivação a quem de fato realiza o trabalho "pesado", e por outro, substitui parcialmente a uma outra categoria de necessidades humanas também referenciada por Max-Neef como participation (socialização), atendida de modo gratuito nos tempos de hoje com o advento da internet.

Outra característica é a de que o trabalho é entregue ao operário, em vez desse ir buscá-lo, fazendo assim a analogia à eliminação do movimento inútil [Wikipedia, 2009. Fordismo]

Você realmente acha que, nos dias de hoje, e principalmente no setor de serviços, isso é viável? Nas comunidades de software livre de hoje, é o desenvolvedor que busca atividades, numa lista de pendências. E são produtos open source que estão ganhando fatia de mercado nos dias de hoje, a exemplo do Firefox, do PostgreeSQL e afins.


Ao meu ver, todo colaborador motivado é pró-ativo, ou seja, se empenha em trazer melhorias aos processos atuais, e soluções aos problemas correntes, o que, de fato, é do interesse da empresa. E eu acredito que isso é muito mais importante que prazo e produtividade.



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