26 novembro 2006

"Musicoterapia"

Dormindo tarde, acordando cedo, mal vivendo a minha vida, até que uma oportunidade de distração aparece. Conversando com uma colega do antigo estágio, soube de um show de um dos ícones da MPB: Flávio Venturini. Amante da boa música popular brasileira, romântico de carterinha e músico amador que sou, eu teria que ir a qualquer custo. Faltaria uma companhia romântica, mas não ir a um show desse calibre seria mais que burrice. Saio de casa cerca de duas horas antes do combinado. A colega do antigo estágio levaria uma amiga, e pontual como sou, não gostaria de deixar as duas me esperando. Chego trinta minutos antes do combinado, e a colega, uns quinze minutos depois de mim. Esperando a amiga chegar, conversamos coisas diversas, ou coisa alguma, pra passar o tempo. Mas numa dessas meias conversas, uma me fez pensar... Pediu-me pra que eu falasse alguma coisa, a fim de quebrar o meio silêncio, e falei de mim. Com a certeza convicta de que deveria ficar calado. "Você chora demais", ela disse, e eu, ainda que inconsciente, concordava com aquilo. Senti vontade de me calar, como que a evitar desastres catastróficos (hipérboles, hipérboles). Mais alguns minutos, e cometo, inconscientemente, o mesmo erro. Daí que ela pára, sentada num assento improvisado embaixo do abrigo de ônibus e me diz: - Você acredita em mundo espiritual? Minha mente voou até Andrômeda, contornou o buraco negro no centro da galáxia e voltou, tudo em menos de dois segundos. Respondi um "acredito" meio sem graça, pois havia acabado de me lembrar de discussões severas sobre o assunto, via mensageiro instantâneo, via dois tópicos do Orkut, e comigo mesmo. Falou-me que eu precisava parar de falar mal de mim mesmo, de me expressar melhor, mostrar tudo o que eu escrevo através de palavras oralizadas, ao invés de escrevê-las aqui, e agora. Falou-me que assim eu espantava as pessoas, que "sugava" parte da energia delas. Déjà vu... No fundo eu sabia que ela estava certa. Ela não falaria aquilo tudo, daquele jeito paciente, se não estivesse certa do que dizia. Não é a toa que eu normalmente fico em silêncio quando não tenho assuntos em comum pra discutir... A estratégia do "começa você um assunto" entre duas pessoas tímidas é causa certa de um impasse. Isso quando não desatam a falar besteira, e um assunto desagradável não advém das profundezas... Ouvindo aquilo, eu a olhava nos olhos, o mais profundo que eu conseguia. Olhos castanhos, límpidos, radiantes. E ainda continuava sem graça. Dalí a dois minutos, a amiga chegaria. Desconversamos, falamos de coisas amenas, e então, descemos os três para a Concha Acústica. Flávio Venturini começaria o show em alguns minutos, e enquanto isso, uma banda, que ali estava já a algum tempo, fazia um som mais que interessante. Som esse que agradava, e muito. Passados mais trinta minutos e o tão esperado show começara. Ao meu lado esquerdo, a amiga, e depois a colega. A cada música que passava, senti-me ainda melhor que no melhor dos meus dias... E ao meu lado, olhos verdes cheios de lágrimas, a lembrar de bons e maus momentos do passado... Arranjos de violão, saxofone, baixo e guitarra mais do que primorosos, harmonia perfeita, e os lindos falsetes do nosso intérprete só embalavam os meus ouvidos mais e mais. Saí do show com a impressão de que a música é o meu combustível, e que se não fossem as minhas roupas e os meus sapatos, eu já estaria voando...
Comentários
2 Comentários

2 comments:

Anônimo disse...

Meu querido amigo, por favor, não deixe essas palavras assim, ao vento. Elas não são palavras de opressão ou reclamações, são conselhos, observações, e são pro seu bem.

Unknown disse...

Não estão ao vento, estão me martelando a cabeça, desde ontem... Mas que a sensação de ouvi-las foi horrível, ah foi... Pior que um tiro na cabeça...

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