Era uma vez, um menino amarelo. E naquela época, o menino amarelo usava aparelho. Havia ficado mais ou menos uns dois anos usando aquele treco nos dentes. Quando finalmente o tiraram da carceragem dentária, sua dentista lhe disse: Olha, você vai precisar extrair esses quatro dentes, tá? Senão a gente vai perder todo o nosso trabalho.
Eis o começo do martírio. Ele extrairia os quatro dentes, dois por vez, sempre do mesmo lado. Os dois primeiros até que foram bem tranquilos, anestesia dada sem problemas, nada de dor, nada de desconforto. Passado algum tempo (acho que mais ou menos um mês), lá ia o menino amarelo, de novo, extrair o resto dos dentes. Acompanhado de sua mãe, ele chega até a sala de espera do consultório.
Apesar da cirurgiã dentista ser um tanto volumosa, tinha mãos aparentemente leves. O menino amarelo descobriria que isso era tudo mentira (em que planeta a pata de um elefante é leve? oO)... O dente siso superior direito ela retirou sem maiores problemas. E lá vai ela remover o inferior. E cortava a gengiva daqui, e puxava o dente dali... E no meio do caminho a anestesia perdera o efeito e o menino amarelo urrava de dor na cadeira. Sentia-se numa mesa de tortura medieval, ou nas mãos da Inquisição. Pagaria todos os seus pecados naquele dia. Existia meio que uma simbiose entre o menino amarelo e a cadeira da dentista, era difícil saber onde terminava um e onde começava o outro...
Por mais que a dentista
Uma mistura de dor e ódio irradiava dos olhos do menino amarelo. Completamente imóvel na cadeira, uma gota de lágrima corria nos seus olhos. Depois de muito penar, o menino amarelo sente o seu dente trincar. Com um só puxão, a dentista
E naquele momento, o mundo parou. Imaginou trocentas maneiras de matar aquela mulher, mas nenhuma delas alimentaria a sua sede de vingança. No final das contas, desejou que ela tivesse estrias nos seios, celulite na barriga, e uma menstruação de 15 dias. Já estaria de bom tamanho... Ao sair completamente zonzo da sala, perguntou à sua mãe, num dialeto meio estranho: cadê todo mundo? As cinco pessoas que estavam na sala de espera há duas horas atrás haviam sumido. Até hoje ele se pergunta o porquê.