20 junho 2006

Amigas! Namoradas?

Nunca entendi o porquê da expressão: "Vocês homens, hein?! Não perdoam as colegas de trabalho, nem as amigas, as primas... Se bobear, nem a própria mãe!" Sempre fui defensor do poder que os sentimentos exercem sobre as pessoas, em detrimento da hierarquia familiar (exceto incestos, é claro), posição social, idade, e quaisquer outros títulos que a nossa sociedade infamemente preconceituosa nos impõe. Diz-se dos amigos aquelas pessoas que nos conhecem bem o suficiente para apontar qualidades e defeitos, manter um grau elevado de intimidade, guardar confidências, etc. Este conceito é, de longe, o mais simples e resumido que eu pude elaborar, mas servirá ao nosso propósito. O que nos convêm aqui é: se os nossos amigos (no meu caso, amigas) nos conhecem assim tão bem, por que não tentar um relacionamento mais íntimo do que uma pura e simples (embora muitas vezes avassaladora) amizade? De fato, em alguns casos a amizade estabelecida é demasiado longa para se arriscar. E aqui se encaixam aquelas originárias do nosso tempo de colegial, ou de quando ainda tínhamos 6 ou 7 anos de idade, brincando de esconde-esconde na rua (fui longe demais?). O fato é que nossos amigos nos conhecem bem o suficiente para saber se vale a pena manter um relacionamento amoroso conosco, independente de questões um pouco menos relevantes, tais como "é, dá pro gasto" ou "não é muito bonitinho", ou seja, frisando o aspecto pessoal, e não físico. Cheguei a tais conclusões depois de descobrir (a uns 2 anos e meio atrás) que gostava um pouco mais do que devia (para ser eufêmico) de uma amiga que conheci aos 14 anos de idade. Fiquei um pouco assustado: não era para menos, afinal, nunca havia sentido algo tão forte por mulher alguma... O medo não consistia em "vou perder a minha amiga", mas em "e se ela disser não?". Essa angústia perdurou por um ano inteiro, ate que começou a interferir nos estudos. Resolvi então arriscar, e me ver livre de um peso imenso, na consciência (me arrependeria de não tê-lo feito) e no coração (saber é melhor que imaginar). E como eu imaginava, um não curto e sem graça. Não a recrimino por isso, afinal, receber uma notícia dessas não é tão comum quanto se pensa. Depois de alguns momentos de silêncio, vieram tentativas de consolo, de explicação, que já não faziam mais efeito, pois eu, na minha infame expectativa, já me encontrava estarrecido de amargura, de desespero, de frustração. Como curar os "efeitos colaterais" então? Muitas mulheres recriminam os homens quando estes, amigos seus, tomam atitudes como estas e depois resolvem se afastar. Pobre delas, se soubesem... Pensei muito em fazer isso, e não abomino os homens que o fazem. É difícil estar ao lado de uma pessoa a quem se ama (sem demagogia) e não poder ao menos sentir o cheiro do cabelo, a maciês da pele, do rosto, dos lábios... Ainda mais quando se passa quase 3 anos ouvindo as histórias amorosas da amiga, momentos que a própria julga como "os mais felizes da minha vida". Isso só me trouxe insegurança, dúvidas quanto a minha capacidade de fazer alguma mulher feliz de fato, entre outras, que não vêm ao caso (todas superadas, em parte). Afastei-me, involuntariamente, pois ela passa mais tempo na casa do pai (que mora em Campo Grande) do que na da mãe (no final da rua onde moro). Depois de alguns meses, consigo pensar melhor sobre o assunto, sem me entristecer (pelo menos, não tanto quanto antes), mas ainda não consigo responder, olhando nos olhos, "sossegado", quando ela me pergunta "como anda o coraçãozinho?". Mas, enfim, no meio das tentativas sem sucesso de explicação, vieram palavras que me fizeram pensar. "A gente se daria muito bem se a gente namorasse... Nós já nos conhecemos a mais de 6 anos"... E eis o motivo deste texto. O que faz os nossos amigos (repito: no meu caso, amigas) a pensar em coisas tão contraditórias quanto essas? "... Nos conhecemos bem o suficiente para saber o que magoa um ao outro, somos pessoas maduras o bastante para manter um relacionamento sério...", e depois de quinze minutos de explicação: "... mas eu não sinto nada além de amizade por você, Léo". Depois de muito pensar, eu, enfim, entendi que o tão disseminado bordão "a beleza interior é mais importante que a exterior" não é o que as mulheres, seres ditos mais sentimentais que os espécimes do gênero oposto, têm pra si mesmas. E, enfim, a minha terceira decepção amorosa, e social. Senpre tive para mim mesmo que os sentimentos são coisas tão concisas, que são passíveis de compreensão, contestação e explicação. Que eles deveriam ser apenas sentidos, sem interferência alguma da razão, exceto em casos extremos, em que a saúde, a vida, e outras coisas primárias corram risco. Com essa experiência, tive a mais absoluta certeza de que o ser humano cada vez mais se polui, se reprime, se esconde. As máscaras que a sociedade insiste em nos impor, seja pela moda, pelas telenovelas, pela etiqueta, pelo senso comum, pela globalização, e por diversos outros motivos, se enraizam mais e mais em nossos rostos, contaminando o nosso senso crítico, a nossa forma de pensar, de agir, de sentir. Talvez quando eu for correspondido algum dia eu mude de opinião... Veja Também: Sexo e Amizade
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