Amigos Virtuais
Com a febre das comunidades virtuais espalhadas pela internet (e em especial o tão aclamado Orkut), pessoas se relacionam com um grau de intimidade cada vez maior. Escondidas sob perfis falsos (os fake profiles) essas mesmas pessoas se libertam do grande peso que é falar abertamente sobre coisas um tanto vexatórias ou mal vistas pela sociedade, como homossexualismo, ou ainda sobre coisas extremamente pessoais, como decepções amorosas e crises existenciais. A pergunta que fica é: existe uma amizade real nesse meio um tanto hostil?
Não há contato físico entre as partes. Não há qualquer espécie de confirmação a respeito dos dados pessoais que tais pessoas divulgam em seus perfis, quando tais informações são divulgadas. As fotos podem não ser verdadeiramente de quem dizem ser. Os textos escritos durante as conversas em tempo real podem ser sinceras, como realmente parecem ser, mas também podem simular uma personalidade qualquer. Eles podem exprimir sentimentos comuns aos leitores, para que estes se identifiquem com quem os escreve, transmitindo a este um grau maior de confiança. Pior ainda quando mulheres se passam por homens e vice versa, como uma espécie de experimentos acerca do sexo oposto. Mas até onde se deixar levar neste tipo de envolvimento, já que tantos contras aqui foram expostos?
De certo, a única certeza que se tem é acerca do que nós próprios falamos. Às vezes, nem isso. Mas o quanto a certeza a respeito do próximo é necessária? Existem sim pessoas inescrupulosas, que se aproveitam de uma possível fraqueza (momentânea ou não) do emocional ou da própria inoscência e boa vontade das suas vítimas para aplicar-lhes golpes diversos (a dita engenharia social). Mas visto que informações de cunho financeiro e dados pessoais tais como endereço não devem ser divulgados a qualquer preço, isso aqui não é o importante. Se passamos por momentos difíceis em nossas vidas, é extremamente comum procurar alento naqueles que estão dispostos a nos ouvir, a nos dar uma palavra de incentivo, mesmo que por detrás de uma tela de computador.
Se as máscaras que vestimos ao efetuar um login vão além da manutenção da privacidade, a ilusão de conforto durante um diálogo qualquer é meramente passageira. Assim que a página expira, ou que o logoff é feito, a mesma sensação de vazio nos acomete, e o ciclo vicioso continua. Mas se há sinceridade em nossas intenções, as emoções transpassam os bytes das mensagens e o aspecto frio e inerte da tela de um computador, e amizades são realmente estabelecidas. Amizades duradouras, por sinal. Confidências são feitas, conselhos são trocados, sentimentos se constróem e as relações se enraizam, mesmo na ausência de contato físico.
Cabe a nós determinar o grau de envolvimento dedicado a esse tipo de relação, pois como em todas as outras, pessoas se machucam. Saber reconhecer as verdadeiras intenções das pessoas é fundamental, tanto nas relações reais quanto nas digitais. E após constatadas todas as veracidades e bondades possíveis, aproveitar ao máximo tudo o que essa nova forma de iteração nos proporciona é o que se deve fazer. "Que seja eterno enquanto" a conexão discada não caia, o link da banda larga não fique ruim, o computador não trave...