21 junho 2006

Palavras e Efeitos Colaterais

Incrível como apenas algumas palavras podem ter poder destrutivo, transformador, ou revoluvionário. Não é a toa que as pessoas dizem "cuidado com o que fala", e, além disso, "quem fala o que quer, ouve o que não quer". Porém, acredito que saber ouvir é uma qualidade, e interpretar o que se ouve da melhor maneira possível é mais que uma virtude: é um estilo de vida. Tenho uma vizinha que conheço desde pequeno. Ela era uma daquelas ditas "não muito femininas" (não levem para o lado da opção sexual, mas para o da personalidade, do jeito de ser). Jogava futebol, empinava pipa (papagaio, para os sulistas), e todas as outras coisas que os meninos da mesma idade fazem. Não tão bonita, de maneiras grossas, palavreado chulo, fazia um certo sucesso entre nós, meninos. Sempre foi extrovertida, ria de tudo, inclusive dos tombos que quaisquer pessoas (idosos, deficientes físicos, etc) pudessem levar, de piadas de sacanagem, e diversas outras coisas. Eu achava graça naquilo tudo, pois não imaginava que meninas pudessem agir daquela forma... A menina cresceu, foi tomando corpo, mudando o jeito de se portar, e despertando o interesse dos homens. Suas formas eram muito mais sedutoras que as da sua irmã (alguns anos mais velha) e das outras meninas do bairro. Literalmnte, "entortava os pescoços" dos garotos distraídos com tantas curvas e volumes. Não obstante, eu, tão garoto (no que se refere aos instintos sexuais) quanto os demais, atraí-me por ela de forma tal que me pegava espiando, pelo muro da minha casa, as janelas da casa dela (já que somos, de fato, vizinhos). Garoto de imaginação fértil, eu idealizava aquelas formas com toques sutis de erotismo, típicos de um adolescente "amarelo" (entenda-se por "amarelo" todo aquele(a) que não possui uma vida social ativa o suficiente, no que se refere a lazer). Ainda me assusto com o poder da minha imaginação... Propositalmente, ficamos mais amigos, e passamos a conversar sobre assuntos diversos, inclusve relacionamento. Surgiram perguntas como "Que música você cantaria para mim se a gente estivesse começando a namorar?" e "Cante uma música pra mim?!". Violonista amador, com alguma destreza, lá ia eu, cantando músicas que já estava cansado de ouvir, mas que remetiam a estados de êxtase romântico, reflexão sentimental, e outros (pra não dizer "melosas" mesmo). Afinal, eram músicas que a própria pedia, não haveria porque negar. Algumas ocasiões como estas se repetiriam posteriormente... Conversando novamente sobre relacionamento, resolvi investir num entre nós. Não aqueles fixos, pois não estava com vontade de me comprometer oficialmente, nem aqueles abertos demais, pois não consigo me acostumar com a idéia de "dividir" uma garota. Afinal, não tenho vida sexual ativa o suficiente para não me abalar com um "adultério informal". Vieram aquelas desculpas esfarrapadas, típicas daquelas garotas que não querem magoar, mas não sabem o que dizer. Depois de meia hora, veio um "não vejo nada que me atraia fisicamente em você, Léo"; senti sinceridade na voz dela, pela primeira vez... Já tinha namorado, mas não era essa a razão para a dispensa, pois, segundo ela, "se estivesse com vontade, pularia a cerca" (entre outras palavras, é claro). Conformei-me com isso, afinal, não se muda aparência e porte físicos de uma hora para outra. Precisaria mudar de tática... Tentei ir pela personalidade, e não obtive sucesso. Só pela personalidade, uma amizade, para ela, já era de bom tamanho. E lá pelas tantas, conversando digitalmente via mensageiro instantâneo, tocamos novamente no assunto. Ela questionou a minha aversão aparente (para ela, mas momentânea, para mim) a relacionamentos estáveis. E eu tive que dizer: "Não sei se conseguiria aturar a sua mãe, e seus irmãos"... Eis que a ogiva nuclear detona. Deveras, eu não gosto de 80% da parte conhecida da família dela, por motivos que prefiro não revelar. O fato é que isso caiu como uma bigorna de 1 gigaton na cabeça da garota, e eu acabei reconhecendo que deveria te-lo dito de outra forma... Dias silenciosos depois, ela acabou me mandando um recado, via o tão famoso Orkut, no qual constava, entre outras palavras: não posso manter uma amizade com alguém que não gosta da minha família. Indignei-me, a princípio, com tal forma de pensar, mas respeitei-a, como sempre fiz, faço e farei. O fato é que conheço pessoas que não gostam da minha mãe, e nem por isso deixo de gostar delas. Assim como conheço pessoas que gostam da minha mãe, mas não de mim. Tenho para mim, que uma amizade se baseia em afinidades entre as duas pessoas envolvidas, e não entre estas e terceiros. E continuarei a pensar assim, até que alguém, com argumentos logicamente construídos e encadeados, me convença do contrário. Até tentei usar a tática do "ponha-se no lugar dela", e não mudei a minha opinião a respeito do assunto. Será que ser sincero demais é assim tão devastador quanto parece? Veja também: O Super Sincero - Rede Globo
Comentários
1 Comentários

1 comments:

Anônimo disse...

E continuarei a pensar assim, até que alguém, com argumentos logicamente construídos e encadeados, me convença do contrário.

Concordo em gênero, número e grau com o q disse. Concordo tbm q saber ouvir é uma dádiva, alguém com um pouco mais de bom senso, se fosse pra defender a família, tentaria lhe convencer Ah, mas eles nao são tão ruins assim... e não jogar pro alto uma amizade de anos por um motivo tão besta.

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